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Cabeças e Cabelos | Mulheres no Cinema


Domingo, me vi sentada na calçada, em ótima companhia, assistindo à projeção na parede do Cemitério do Carmo em São João Del Rei ao filme K-Bela, da jovem diretora Yasmim Thainá. Adaptado de um conto escrito por ela, o curta veio nos sensibilizar para a questão da identidade da mulher negra a partir do seu cabelo.

Feito com orçamento baixo e de forma colaborativa, o roteiro agrega testemunhos de várias mulheres. Seu ponto alto é uma força imagética incrível. Hoje, para escrever esse texto, vi uma entrevista da diretora ao programa “Curta!”. E a julgar pela intenção inicial expressa na entrevista e o domínio da direção no resultado final que vi, só tive ainda mais convicção de somar este filme à minha série de mulheres no cinema e inaugurar a tag cinema brasileiro aqui.

Thainá diz que queria falar sobre o empoderamento da mulher, da forma delas estarem no mundo como bem entendem e da maneira que quiserem. Conseguiu com a maestria de uma veterana. Fez história.

Me lembrou, muitas vezes, Chantal Akerman, pela câmera parada, como uma planta carnívora a devorar cenas. Mas a inspiração mesmo foi o cineasta e performer Zózimo Bulbul. A diretora usa elementos simbólicos fortes para denunciar uma identidade ora roubada, ora lapidada pela cultura de massa. Mas também aponta para o resgate, ilumina o caminho de redescoberta de si e provoca empatia através de alegorias que brotam da fala cotidiana. Você escuta pelos olhos.

Embora focado na problematização de uma questão da mulher negra, este curta tem esse caráter universal da arte, de motivar e provocar a mudança em cada um que assiste. É preciso ser um bloco de concreto esquecido no meio do deserto para não se sentir tocado.

Quem viveu K-Bela nesse domingo saiu como quem leva uma surra da realidade. Não porque apanhou de fato. É aquela sensação de quando a gente dança muito e fica dolorido - dolorido bom, sabe? Porque chegou perto dos seus limites e expandiu. E, no caso, o que estava em movimento era a K-beça.

Ainda sem o domínio completo da impressão forte que o filme me deixou, termino com Márcia Tiburi.

“Kbela enquanto cinema e enquanto arte, é um grande não à propaganda biopolítica que usa os cabelos como linguagem da opressão. Como politização da estética contra a habitual estetização da política, a estetização racista da política, Kbela é antipropaganda que se faz como resistência poética na linguagem de Yasmin Thainá, para quem, por essa pequena joia de filme, merece um elogio resumido: genial”. Marcia Tiburi – Leia texto completo aqui. Quem tiver um dia mesma oportunidade, assista!

Aproveito para convidar para um evento que eu não vou. Vai ser em Belo Horizonte e não tenho condições. Mas se você gostou desse texto e quer viver coisas bonitas assim deveria ir: Cine-Rua Feminista na Virada Cultural de BH. Ver evento no Facebook.

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