Era uma vez
No tempo em que as joaninhas não eram raras, os trevos de quatro folhas davam como mato na calçada, bolas de gude brotavam do paralelepípedo e bolas de sabão ocupavam mais o ar que passarinhos e aviões, ninguém sabia que os pontos brilhantes no céu da noite eram últimos brilhos de estrelas. Era comum a Margarida cultivar entrudas de forma concêntrica como as túnicas de uma cebola ou nesgas de saias. Mas tal qual princesas adormecidas eternamente por um feitiço, o jardim de distrações cresceu vertiginosamente e a separou do resto do mundo. Foi mesmo a aridez da falta de mundo que tudo secou e fez o desespero despertá-la. Porque nem só de pétalas vive uma flor, mas da terra que ela crava os dentes também.