Dona Doida
Tanto faz querer ser o presidente do mundo ou uma singela formiga.
Provérbio do Tuquistão
Vasinhos de flores em cemitérios, balas de caramelo no pé da imagem de São Cosme & São Damião, está ai as duas coisas únicas que ela desejava e não tinha coragem de pedir. Não era como os arranjos que se ganhava no final das festas de casamento, nem as balas usadas para agradar crianças. Eram flores desperdiçadas com mortos e balas que só as formigas usufruíam uma insignificante parte.
Quando passava ao lado dos garotos, ela era apedrejada. Cansou de tentar entendê-los. Oh, não por isso... Afinal ela passava chutando as bolas de gude. O que um dia teve curiosidade de saber era por que ficar disputando as dos outros se era ir só na esquina e comprar um saco? Pelo menos esta estupidez ela podia atacar mesmo com a pena do contra ataque. Dona doida! Dona doida! Quem eram eles pra dizer?
Não tinha lugar para ela neste mundo e, como não podia viajar por aí para descobrir, só restava se conformar. Podia sair de casa, dar uma volta pelo bairro. Seu único prazer era procurar um graveto bem firme para riscar os muros ou ficar sentada no cemitério contando o número de vasos de flores enquanto saboreava um caramelo. Mas ela sabia, não era tão bom quanto para as formigas.
