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De perto ninguém é absurdo| Mulheres no Cinema


Me precipito em afirmar que estou inclinada a acompanhar a carreira de uma roteirista e diretora americana que tem me surpreendido a cada trabalho. Estou falando de Sian Heder.

De acordo com uma citação do cineasta Alejandro Iñárritu, "Depois que a gente faz 40 anos, tudo o que não assusta não merece ser feito". Pois bem, ainda aos 39, esta promissora roteirista parece seguir a frase como uma cartilha.

Como um sonho americano

Depois de se formar, Sian Heder mudou-se para Hollywood a fim de se tornar uma atriz e roteirista. Mas a vida não começou fácil para a jovem de Massachusetts. Com o objetivo de se manter na metrópole, trabalhava em uma agência de babás.

Seus clientes eram hóspedes de hotéis caros, o que a inspirou a escrever seu primeiro roteiro em 2005: Mother Was. Este foi premiado com uma bolsa do American Film Institute, que permitiu a realização do filme.

Heder começa então atuando nele como roteirista e diretora. O trabalho lhe rendeu prêmio de "Melhor Narrativa curta" no Festival da Florida. Também recebeu premiações no Festival de Cannes e no Festival Internacional de Cinema em Seattle.

Em 2010, ela ganhou o prêmio Peabody, junto com outros roteiristas, por seu trabalho na série Men of a Certain Age. E, um ano depois, escreveu e dirigiu um curta de comédia, Dog Eat Dog, estrelado por Zachary Quinto (o novo Dr. Spock), em prol da causa de adoção de animais de rua. Mas sua obra prima, com grande visibilidade, viria mesmo com o grande sucesso da série da Netflix Orange is the New Black.

Estreia no longa

Contudo, depois de ver Tallulah (2015), seu longa de estreia, percebi que a roteirista não deve ficar presa ao mundo enlatado. Aqui, já se faz notar um estilo dada a intimidade com a sétima arte.

Persistem, como na série, os temas polêmicos que circundam o universo feminino com uma pitada de fantasia. Além de uma perspectiva que nos joga na complexidade de dramas psicológicos e narrativas sociais.

Estrelado por Ellen Page (Juno) e Allison Janney (também Juno e The West Wing), o filme aborda a questão da maternidade a partir da perspectiva de uma anti-heroína totalmente impulsiva: Tallulah. Como tantas pessoas que escolhem viver pelo mundo libertas de determinações sociais, a personagem faz suas “escolhas morais” sem medir consequências.

A narrativa prossegue em paralelo com a sogra da menina, de características totalmente opostas. E, como num triângulo, Carolyn (Tammy Blanchard) vítima e algoz do padrão feminino criado pela sociedade, equilibra as caracterizações e dá uma porrada de humanidade no expectador. A mão da diretora é tão boa, que até a bebezinha da trama, parece contracenar com as atrizes.

Heder roteirista se apresenta como uma feiticeira de uma magia triste (para roubar uma imagem do texto que li no The Guardian). Sua Tallulah, Lu, não mostra nenhum remorso por sequestrar o filho de uma estranha. Já a vítima, Carolyn, é um caso perdido de egoísmo, que faz Blanche Dubois, de "Uma Rua Chamada Pecado", parecer fichinha. Mas à medida que o roteiro avança, todos mostram suas verdadeiras características, contrariando arquétipos e tipos sociais já estigmatizados.

O movimento da trama é dado por uma estranha sororidade, que comove até o mais estreito dos machões. Depois desse filme, seguirei Sion Heder até sua criatividade continuar assustando os padrões.

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